É um fato a ser reconhecido: a série Daredevil Netflix deu um passo gigante há 10 anos e soube mostrar como deve ser histórias de super-heróis.
Há 10 anos, Daredevil estreava na Netflix e mudava para sempre o cenário das séries de super-heróis. Criada por Drew Goddard, a primeira temporada da série trouxe uma abordagem sombria e madura para o Homem Sem Medo, com Charlie Cox no papel principal e Vincent D’Onofrio como o imponente Rei do Crime.
Com cenas de ação brutais, diálogos marcantes e uma profundidade emocional rara no gênero, Daredevil provou que adaptações de quadrinhos podiam ser muito mais do que apenas entretenimento escapista.
Agora, com a estreia de Daredevil: Born Again no Disney+ se aproximando, é o momento perfeito para relembrar por que a primeira temporada da série da Netflix continua sendo uma referência absoluta na TV.
Charlie Cox simplesmente é o Demolidor
Desde o primeiro episódio, fica claro que Charlie Cox nasceu para interpretar Matt Murdock. O ator entrega uma performance carregada de vulnerabilidade e intensidade, capturando perfeitamente a dualidade do personagem.
Matt é um homem assombrado pelo passado, consumido pela culpa e guiado por uma fé que constantemente entra em conflito com seus métodos.
A maneira como Cox equilibra o advogado determinado e o vigilante brutal é um espetáculo à parte. Ele convence tanto nas cenas de tribunal quanto nos embates físicos nas ruas de Hell’s Kitchen. Seu Demolidor não depende de superpoderes extravagantes, trajes tecnológicos ou armas sofisticadas.
Ele é um lutador incansável, que sente cada soco e cada corte, tornando suas batalhas ainda mais impactantes.
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O resultado é um protagonista complexo, que luta tanto contra o crime quanto contra seus próprios demônios internos. Esse equilíbrio entre justiça e vingança, fé e violência, é o que faz de Matt Murdock um dos personagens mais fascinantes do universo Marvel.
Wilson Fisk: um vilão à altura do herói
Se Daredevil brilhou com Charlie Cox, foi Vincent D’Onofrio quem roubou a cena como Wilson Fisk. O Rei do Crime nunca foi apenas um vilão genérico. D’Onofrio construiu um personagem multifacetado, que equilibra brutalidade e sensibilidade de maneira magistral.
Fisk é imponente, meticuloso e implacável. Seus acessos de fúria são aterrorizantes, mas sua história de origem e sua relação com Vanessa Marianna (Ayelet Zurer) trazem um lado humano inesperado. Ele não vê a si mesmo como um criminoso, mas sim como o verdadeiro salvador de Hell’s Kitchen.
E é exatamente isso que torna sua rivalidade com Matt Murdock tão fascinante: ambos acreditam que estão salvando a cidade, mas seguem caminhos opostos para isso.
O arco de Fisk na primeira temporada é um dos melhores já escritos para um vilão de série. Sua ascensão ao poder, sua manipulação dos sistemas legal e criminal, e sua queda dramática fazem dele um adversário à altura do Demolidor.
O impacto dos coadjuvantes e a construção de um universo rico
Além dos protagonistas, Daredevil apresentou um elenco de apoio incrivelmente bem desenvolvido. Foggy Nelson (Elden Henson) e Karen Page (Deborah Ann Woll) não são meros coadjuvantes, mas peças fundamentais na vida de Matt. Foggy é o melhor amigo que tenta mantê-lo no caminho certo, enquanto Karen representa tanto a luz quanto o perigo que cercam sua jornada.
Outros personagens, como Ben Urich (Vondie Curtis-Hall), Stick (Scott Glenn) e Claire Temple (Rosario Dawson), ajudaram a expandir a mitologia da série e estabeleceram conexões com futuras produções da Marvel na Netflix. O jornalismo investigativo de Urich, a filosofia dura de Stick e a presença de Claire como elo entre os heróis de rua adicionaram camadas de profundidade à narrativa.
Além disso, Wesley (Toby Leonard Moore), o braço direito de Fisk, merece destaque. Subestimado por muitos, Wesley trouxe uma calma assustadora à série, sendo o perfeito contraste para os rompantes de fúria do Rei do Crime. Sua lealdade inabalável e frieza tornaram sua morte um dos momentos mais chocantes da temporada.
A ação visceral e a estética cinematográfica
Se há um aspecto de Daredevil que ainda é referência entre os fãs, é a qualidade das cenas de luta. O icônico plano-sequência no corredor, onde Matt enfrenta um grupo de bandidos sem cortes aparentes, ainda é considerado uma das melhores sequências de ação da TV.
A abordagem realista das lutas, mostrando o cansaço e os ferimentos acumulados, trouxe um nível de imersão raramente visto em séries do gênero.
A direção, inspirada em filmes noir e no realismo brutal de produções como The Raid e Oldboy, deu um tom sombrio e autêntico à série. O uso da iluminação, com sombras dramáticas e o vermelho simbolizando a violência e a religiosidade de Matt, contribuiu para a identidade visual marcante da produção.
A trilha sonora de John Paesano também merece elogios. Com tons melancólicos e uma atmosfera intensa, a música elevou cada cena, tornando os momentos de reflexão e os confrontos ainda mais impactantes.
Daredevil Netflix deu um passo gigante e deixou um legado não só para os fãs
Uma década depois, Daredevil continua sendo um marco na história das adaptações de quadrinhos para a TV. Sua abordagem madura, personagens bem desenvolvidos e ação visceral elevaram o padrão para o gênero e influenciaram outras produções.
Agora, com Daredevil: Born Again no horizonte, os fãs aguardam ansiosos para ver se a nova série será capaz de capturar a mesma essência que tornou a versão da Netflix tão icônica. A confirmação de que Charlie Cox, Vincent D’Onofrio e outros membros do elenco original estão de volta é um bom sinal.
No entanto, resta a dúvida se a Marvel Studios permitirá que Born Again mantenha o tom sombrio e a intensidade emocional que fizeram de Daredevil um fenômeno.
O que fica claro é que Daredevil não foi apenas uma adaptação de quadrinhos – foi um divisor de águas. E, independentemente do que venha pela frente, a primeira temporada da série já garantiu seu lugar na história como uma das melhores produções da Marvel.